Saiba como tecnologias desenvolvidas no interior de SP garantem avanços no diagnóstico e tratamento do câncer de mama
25/10/2025
(Foto: Reprodução) Série 'Resistir': Hospital Amaral Carvalho realiza estudos com biópsia líquida em Jaú
Pesquisas e novas tecnologias desenvolvidas em hospitais e universidades do centro-oeste e oeste paulista estão ajudando a transformar o enfrentamento do câncer de mama. Do diagnóstico mais rápido e confortável à possibilidade de monitorar a doença com métodos menos invasivos, os estudos têm demonstrado que a ciência é aliada fundamental para aumentar as chances de cura e garantir mais qualidade de vida às pacientes.
Em Jaú, o Hospital Amaral Carvalho participa de uma pesquisa com biópsia líquida para auxiliar no monitoramento da doença. Na Unesp de Botucatu, pesquisadores implantaram um protocolo que permite diminuir o tempo da ressonância para diagnóstico. E em Presidente Prudente, um estudo revela que a alimentação influencia diretamente no tratamento oncológico.
A terceira reportagem da série “Resistir” exibida no TEM Notícias 1ª Edição mostra esses três estudos, em três cidades diferentes, relacionados ao câncer de mama. (Assista à reportagem acima).
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Monitoramento menos invasivo
Biópsia líquida permite detectar fragmentos do tumor em fluidos corporais, como sangue e urina, sem necessidade de internação
Reprodução/TV TEM
Em Jaú (SP), pesquisadores do Hospital Amaral Carvalho estudam uma alternativa promissora para o acompanhamento das pacientes: a biópsia líquida. A técnica permite detectar fragmentos do tumor em fluidos corporais, como sangue e urina, sem necessidade de internação.
“A biópsia líquida identifica células tumorais e fragmentos de DNA que o tumor libera no organismo”, explica a farmacêutica bioquímica Ludmilla Thomé Domingos Chinen, responsável pela pesquisa. Segundo ela, o método é menos invasivo e com resultados mais rápidos e de menor custo.
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O foco atual dos estudos é o monitoramento da doença como forma de saber se a paciente está respondendo ao tratamento e ajustar a terapia precocemente, evitando efeitos colaterais desnecessários. “Nossa intenção é que essa tecnologia chegue à rede pública futuramente, pois ainda estamos em fase de pesquisa.”
Farmacêutica bioquímica Ludmilla Thomé Domingos Chinen, responsável pela pesquisa
Reprodução/TV TEM
As enfermeiras fazem o convite para as pacientes colaborarem de forma voluntária. Mais de 200 pacientes participam do estudo que envolve coletas de sangue a cada seis meses. Para a educadora física Gabriela de Souza Amaral, diagnosticada em março, contribuir para o estudo é um gesto de solidariedade. “Acredito que participar pode ajudar outras pessoas. É um novo caminho que se abre”, afirma.
A enfermeira navegadora Bruna Montagna reforça o impacto humano das pesquisas. “Elas não ajudam só o hospital, mas as próximas pacientes que vão precisar do tratamento. É um gesto de amor.”
Foco dos estudos é o monitoramento da doença como forma de saber se a paciente está respondendo ao tratamento e ajustar a terapia
Reprodução/TV TEM
Ressonância com tempo menor
No Hospital das Clínicas da Unesp, em Botucatu (SP), um grupo de pesquisadores desenvolveu um protocolo abreviado de ressonância magnética, capaz de reduzir o tempo do exame de 30 para apenas 8 minutos sem perda de qualidade no diagnóstico.
O novo método foi publicado na Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia e já está em uso no hospital. O protocolo foi baseado nos estudos de uma médica alemã que, há uma década, conseguiu reduzir o tempo do procedimento.
“Esse exame é voltado para mulheres com alto risco de desenvolver o câncer de mama. Antes, conseguíamos realizar cerca de oito exames por mês. Agora, com o novo protocolo, ampliamos para 40”, explica o professor Eduardo Carvalho Pessoa, da Faculdade de Medicina da Unesp.
Protocolo abreviado de ressonância magnética reduz o tempo do exame de 30 para apenas 8 minutos
Reprodução/TV TEM
A residente em radiologia Thais Lima Fragoso detalha que o protocolo eliminou etapas desnecessárias, como as sequências coronal e sagital. “Conseguimos reduzir o tempo sem prejudicar a qualidade da imagem e nem a capacidade de rastreamento”, afirma.
Para quem passa pelo exame, a mudança faz diferença. Alini Corrêa, técnica de enfermagem, descobriu o câncer após sentir um caroço na mama. “Os exames são desconfortáveis. Quanto mais tempo ficamos na posição, parece que o tempo não passa. Esse protocolo mais rápido ajuda muito”, diz.
Além de aumentar a eficiência, o novo formato tornou o processo mais humanizado. “Antes, muitas pacientes não conseguiam concluir o exame por causa do desconforto. Agora, esse problema diminuiu em cerca de 90%”, afirma a biomédica Fernanda Lofiego Renosto.
Segundo a residente em mastologia Thais Ribeiro Melo, o impacto também é clínico. “A mamografia é o exame padrão, mas ainda há de 30% a 40% dos diagnósticos feitos em estágios mais avançados. A ressonância, especialmente com o protocolo abreviado, aumenta as chances de detectar a doença mais cedo.”
Hospital das Clínicas da Unesp, em Botucatu (SP)
Reprodução/TV TEM
Alimentação e prevenção
Outro campo que tem despertado atenção é a relação entre alimentação e câncer de mama. Uma pesquisa desenvolvida pela Universidade do Oeste Paulista (Unoeste), em Presidente Prudente, revelou que a maioria das pacientes em tratamento consome alimentos inflamatórios, como ultraprocessados, frituras e carnes processadas, e poucos alimentos anti-inflamatórios, como frutas, verduras e peixes.
Professora e nutricionista oncológica Sandra Genaro
Reprodução/TV TEM
“A maioria das mulheres avaliadas consumia alimentos que favorecem a inflamação no organismo”, explica a professora e nutricionista oncológica Sandra Genaro. “Quando há uma alimentação equilibrada e individualizada, os efeitos colaterais da quimioterapia diminuem e o paciente consegue manter melhor a imunidade e o tratamento.”
A pesquisadora Bianca Francisco da Silva acrescenta que o acompanhamento nutricional faz diferença até no bem-estar. “As pacientes relatam que, com orientação alimentar, enfrentam o tratamento de forma muito mais leve.”
A aposentada Maria Geni dos Santos é um exemplo disso. “Eu era uma formiga que comia duas barras de chocolate por dia. Mudei totalmente minha alimentação e percebi que fez bem. Ganhei peso comendo certo, descascando mais e desembalando menos”, conta.
Maria Geni dos Santos, aposentada
Reprodução/TV TEM
❤️🩹 'Resistir'
Reportagem: Luís Negrelli
Imagens: Aceituno Júnior, Gustavo Luz e Jamie Raphael
Produção: Andressa Santana
Edição de texto: Yonny Furukawa
Edição de imagens: Luan Lima, Barbara Góes e Helo Hess
Edição de texto web: Eric Mantuan e Mariana Bonora
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