Mapeamento acústico ajuda na identificação do mico-leão-preto
25/10/2025
(Foto: Reprodução) Observar primatas e fazer a contagem deles não é uma tarefa fácil. Os animais estão em constante movimento nas copas das árvores, o que dificulta o processo. Quando os indivíduos são de porte pequeno como é o caso do mico-leão-preto (Leontopithecus chrysopygus) contabilizar o número de animais numa área é ainda mais complicado.
Mas o uso da técnica de mapeamento acústico passivo (MAP) está permitindo a um grupo de biólogos a pesquisar essa espécie que é endêmica do Estado de São Paulo. O projeto é desenvolvido em locais diversos com vegetação nativa protegidos pela empresa de produção de celulose Suzano, nas regiões de Bauru e Sorocaba.
Os micos-leões-pretos medem cerca de 30 cm de corpo e 40 cm de cauda e pesam, em média, 600 gramas
Suzano
"Inicialmente havíamos planejado realizar o monitoramento das populações de mico-leão-preto em apenas uma das áreas da empresa, onde o acompanhamento de um grupo da espécie já vinha sendo realizado. A escolha de uma única área deve-se ao fato de utilizarmos uma metodologia experimental".
A técnica de MAP, integrada à detecção automatizada de vocalizações por inteligência artificial, é recente, o que requer treinamento e validação. Nesse sentido, em 2024, testamos a metodologia em uma das áreas, onde ela mostrou-se eficaz não apenas na detecção do mico-leão-preto, mas também na detecção de outras duas espécies de primatas, o bugio-ruivo (Alouatta guariba) e o macaco-prego (Sapajus nigritus).
Com a validação de sua aplicabilidade, decidimos replicá-la em uma segunda área, onde foi possível detectar o mico-leão-preto e o macaco-prego. Com os resultados positivos que obtivemos, planejamos futuramente incorporar a terceira área no monitoramento", explica Yhasmin Paiva Rody, gerente de pesquisa e desenvolvimento em sustentabilidade da Suzano.
Em cada área foram instalados de dez a vinte gravadores autônomos. Os pesquisadores processaram e analisaram 12480 horas de gravações. Os equipamentos foram programados para gravarem durante 21 dias das 6h às 18h, período em que os primatas estão mais ativos.
Registro de um mico-leão-preto durante monitoramentos de fauna nas áreas da Suzano
Suzano
Em 2018, havia o registro de apenas um grupo de mico-leão-preto em uma das áreas monitoradas. Já em 2025 foram detectados mais oito grupo de primatas.
O aumento dos grupos de mico-leão-preto pode ser explicado pelo aprimoramento da capacidade de detecção da espécie, consequência do maior esforço amostral e da eficácia da nova metodologia utilizada.
Os primeiros registros do mico-leão-preto nas áreas da Suzano advinham de observações casuais, durante os monitoramentos de fauna, mas também pela busca ativa da espécie, utilizando metodologias tradicionais, como a transecção linear e o playback.
"No caso da transecção linear ,método em que o observador percorre uma distância definida e registra os avistamentos, por tratar-se de um primata pequeno e que se locomove rápido na copa das árvores, sua observação em campo é difícil. No caso do playback ,método que consiste na reprodução de vocalizações da espécie-alvo, amplificada por um alto falante, a espécie pouco responde às vocalizações reproduzidas, especialmente após frequentes repetições".
Em cada área foram instalados de dez a vinte gravadores autônomos
Suzano
Em 2024, com a implementação do projeto focado na espécie e que utiliza o monitoramento acústico como metodologia, conseguimos tanto confirmar a presença da espécie nas áreas, quanto identificar novos grupos. Esse resultado mostra a importância da incorporação de novas tecnologias nos monitoramentos de fauna, em particular para espécies raras e de difícil detecção, como o mico-leão-preto", conta Yhasmin Paiva Rody.
A empresa tem um acordo de parceria para pesquisa com o Laboratório de Primatologia (LaP) da Unesp de Rio Claro, sob coordenação científica da Profa. Dra. Laurence Culot. Por meio desse acordo, alunos de graduação, pós-graduação e pesquisadores de pós-doutorado do laboratório, estão desenvolvendo estudos nas áreas da empresa, contando com o apoio logístico da Suzano para acessar as áreas que são de grande relevância para a conservação do mico-leão-preto.
Além disso, participa do programa Inova Talentos, em parceria com o Instituto Euvaldo Lodi. A pesquisadora responsável por executar o projeto de monitoramento e conservação do mico-leão-preto nas áreas da Suzano, Dra. Anne Sophie de Almeida e Silva, integra o programa Inova Talentos e é também pós-doutoranda do LaP.
De acordo com o monitoramento realizado desde 2018 na primeira área de mata preservada, o mico-leão-preto alimenta-se principalmente de frutos do jerivá (Syagrus romanzoffiana), eles representam até 60% dos frutos consumidos pelos primatas naquele local. No entanto, a espécie é faunívora-frugífera ou seja, alimenta-se também de insetos e frutas.
"Sabemos que sua dieta, que é faunívora-frugívora, varia de acordo com a área e com a disponibilidade de frutos. O que pudemos testar e verificar em nosso projeto é que, em uma das áreas da Suzano, a probabilidade de ocupação do mico-leão-preto esteve positivamente relacionada com a maior densidade de palmeiras de (Syagrus romanzoffiana).
Para as outras áreas da empresa, ainda não temos essa informação. Estudos futuros sobre a ecologia alimentar das populações das outras áreas poderão nos ajudar a compreender a importância dessa palmeira na dieta do mico-leão-preto", informa Yhasmin Paiva Rody, gerente de pesquisa e desenvolvimento em sustentabilidade.
Só no Estado de São Paulo, em 2024, a empresa registrou 221 espécies de animais nas fazendas monitoradas, entre eles 11 espécies de mamíferos, 192 espécies de aves e 18 espécies de anfíbios e répteis.
Entre os animais avistados estão anta (Tapirus terrestres), muriqui-do-sul (Brachyteles arachnoides), queixada (Tayassu pecari), tapiti (Sylvilagus brasiliensis), aves como o papo-branco (Biatas nigripectus), macuco (Tinamus solitarius) e o bicudinho-do-brejo-paulista (Formicivora paludicola).
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