Justiça torna réu por homicídio cometido por racismo segurança que baleou e matou cliente negro que entrou com cão em mercado
24/10/2025
(Foto: Reprodução) Cliente é morto por funcionário de mercado no ABC
A Justiça aceitou nesta sexta-feira (24) a denúncia do Ministério Público (MP) e tornou réu por homicídio cometido por racismo o segurança que atirou e matou um cliente negro que entrou com seu cão num mercado em Santo André, na Grande São Paulo.
O crime ocorreu em 26 de agosto após uma discussão e foi gravado por câmeras de segurança do supermercado Loyola (veja vídeo acima).
O MP acusou Milton Miranda Filho por homicídio triplamente qualificado (com intenção de matar, meio que causou perigo comum, motivo torpe por preconceito racial e recurso que dificultou a defesa da vítima) contra Felipe de Moraes de Oliveira.
"A vítima Felipe foi atingida por disparo de arma de fogo dado a curta distância, em mercado de frequência pública, durante o período de funcionamento, tudo com contornos de discriminação racial", escreveu a promotora Manuela Schreiber Silva e Sousa na denúncia.
O acusado responde preso pelo crime. Ele trabalhava armado no estabelecimento, apesar de não ter autorização legal para isso. O juiz Lucas Tambor Bueno também aceitou o pedido do MP para converter a prisão temporária de Milton em preventiva _ que deve durar até o eventual julgamento do réu.
Cadela Zuri
Segurança Milton Miranda Filha e cliente Felipe
Reprodução
O g1 não conseguiu localizar a defesa de Milton para comentar o assunto até a última atualização desta reportagem. O segurança tem 58 anos. Felipe tinha 29 anos e trabalhava como artesão e artista multicultural, além de praticar capoeira.
A gravação do crime ajudou a polícia na identificação do autor do disparo. Nas imagens, é possível ver o momento em que Felipe está segurando o cachorro no colo quando passa pelo caixa do mercado. As filmagens não têm som, mas mostram que há uma discussão entre o cliente e Milton, que era funcionário.
Em seguida, Felipe deixa a sua vira-lata, chamada Zuri, no chão, e também chega próximo de Milton, que saca a arma. O cliente ergue a roupa para mostrar que estava desarmado. Depois o empregado parece empurrar o rapaz, agredindo-o.
Segurança não entregou arma
Homem negro é morto em mercado de Santo André
Um outro homem, que também trabalharia no mercado, aparece e tenta apaziguar os ânimos e separar os dois. Felipe e Milton batem boca. O cliente tenta chutá-lo e é baleado em seguida. O tiro atingiu o coração, pulmão e diafragma da vítima.
As imagens não mostram, mas Felipe ainda prendeu seu cão e foi pedir ajuda numa farmácia vizinha, a Farma Conde, na Rua Adriático. A Polícia Militar (PM) chegou ao local e encontrou o cliente morto.
Milton se apresentou depois numa delegacia. O caso foi registrado inicialmente como "homicídio consumado" no Setor de Homicídios e Proteção à Pessoa (SHPP) de Santo André. À época a Justiça decretou a prisão temporária dele por 30 dias.
O funcionário não entregou a arma que ele usou para matar Felipe. A suspeita da polícia é de que ele usou um revólver calibre 38 para atirar e matar a vítima.
Família citava racismo
Felipe Oliveira (no destaque) foi baleado e morto por funcionário do supermercado Loyola, em Santo André. A fachada do estabelecimento foi pichada com a frase '+1 Assassinato. Justiça Já', após o crime
Indianara Campos/TV Globo e Arquivo pessoal
Outros vídeos que circulam na internet mostram a família do artista resgatando o animal (assista acima também).
Os parentes de Felipe tinham dito à equipe de reportagem que o artesão foi vítima de racismo, já que no mercado não há placas ou cartazes proibindo a entrada de animais. Ainda segundo a família, a vítima havia ido comprar pão com sua cachorra, mas desistiu da compra ao chegar ao caixa.
O vídeo que mostra como o cliente foi morto pelo funcionário repercutiu nas redes sociais. O mercado estava aberto nesta sexta-feira (29), mas apareceu pichado com a frase: "+1 Assassinato. Justiça já".
Mercado não se pronuncia
Câmera de segurança mostra nos destaques o momento em que Felipe Oliveira foi baleado após discutir com um funcionário por ter entrado com um cão no mercado em Santo André
Reprodução
A equipe de reportagem tenta contato com o mercado Loyola para comentar o assunto. O estabelecimento ainda não se manifestou sobre a morte de Felipe. A farmácia também não se pronunciou.
Outros empregados do mercado disseram que o funcionário do Loyola que atirou em Felipe trabalha no local como "controlador de acesso". E que desconheciam que ele estava armado. Sua função, segundo eles, seria a de orientar os clientes e também ajudar a estocar mercadorias.
Familiar resgata cão de Felipe Oliveira em farmácia onde vítima foi pedir ajuda depois de ser baleada em mercado vizinho no ABC
Reprodução
